Definir Privacidade em Cripto: Dos Bancos à Blockchain

Fonte: Blockworks Título Original: A man’s blockchain is his castle Link Original: https://blockworks.co/news/mans-blockchain-castle

A Evolução da Privacidade Financeira

“A casa de cada um é para ele como seu castelo e fortaleza.” — Sir Edward Coke, Procurador-Geral da Inglaterra, 1604

Em 1604, o Tribunal de King’s Bench decidiu o Caso Semayne a favor do réu Richard Gresham, que se recusou a abrir a porta para um xerife que buscava apreender bens para cobrir uma dívida. Isso estabeleceu um princípio fundamental de privacidade: a casa como um santuário protegido. No entanto, Coke deixou uma porta aberta para os homens do rei: a aplicação da lei na busca de questões criminais poderia arrombar portas se necessário (depois de se identificarem primeiro).

421 anos depois, esse princípio permanece em grande parte inalterado. A lei americana exige que as forças de segurança anunciem sua presença ao executar uma busca, mas podem arrombar portas sob certas circunstâncias. A Quarta Emenda protege contra buscas e apreensões irrazoáveis, mas a razoabilidade é o fator-chave.

O sistema bancário tradicional funciona de forma semelhante: suas transações são privadas do público, mas as forças de segurança podem acessá-las com a devida autorização.

A Abordagem Diferente da Privacidade no Cripto

Nas finanças cripto, “privacidade” assumiu um significado mais absoluto. Para muitos na indústria, uma transação privada é aquela que a criptografia torna invisível para qualquer pessoa além do usuário — um verdadeiro castelo financeiro sem porta dos fundos para as autoridades.

Isso reflete as raízes cypherpunk do cripto: privacidade financeira absoluta, garantida por código.

No entanto, há um debate significativo sobre o que a privacidade realmente significa neste contexto.

Definições em Conflito

Eli Ben-Sasson, cientista fundador da Zcash, define privacidade simplesmente: “Pessoas que não deveriam ver suas coisas não veem.” Essa definição implica que algumas pessoas deveriam vê-la — talvez as forças de segurança com um mandado. Ele observa que isso é “exatamente como sua definição cotidiana de privacidade”, incluindo o sistema bancário tradicional, onde todos estão familiarizados com privacidade financeira.

No entanto, Shaul Kfir, que liderou o desenvolvimento do protocolo de privacidade da Canton Network, oferece uma definição mais rígida: “Privacidade é eu poder escolher quem vê minhas coisas.” Isso representa algo fundamentalmente diferente do sistema bancário tradicional, onde você não pode escolher se as forças de segurança acessam sua conta.

Curiosamente, Kfir afirma que a Canton Network não tentou resolver o problema de mover dinheiro sem que a instituição o visse, chamando isso de “um problema imaginado” em vez de um problema real para seus usuários. Isso sugere que a Canton Network se alinha mais com os modelos tradicionais de privacidade bancária.

O Paradoxo

Há uma ironia adequada aqui: a definição mais rígida de privacidade de Kfir descreve melhor o que Ben-Sasson construiu com a Zcash (escolha real do usuário), enquanto a definição de Ben-Sasson se encaixa melhor no que Kfir construiu (stakeholders institucionais têm acesso).

Ben-Sasson observou que é “um pouco misterioso” por que essa confusão definicional existe no cripto. A questão central permanece: a privacidade exige uma divulgação voluntária estrita, como na Zcash? Ou um modelo mais compatível com instituições, como a Canton Network, também se qualifica?

À medida que a indústria enfrenta um renovado entusiasmo por soluções habilitadas para privacidade, uma coisa é clara: o espaço cripto deve primeiro decidir o que a privacidade realmente significa.