“Se o Bitcoin morrer, o mercado cripto morre junto”
Os entusiastas do Bitcoin realmente apreciam essa máxima.
Meu colega Nic Carter foi o mais recente a ressuscitar esse argumento — de que o Bitcoin ocupa o centro do universo das criptomoedas e que todo o restante apenas orbita ao seu redor.

https://x.com/nic__carter/status/1991515105528590699
Essa visão é uma constante nos debates entre Bitcoiners e, com frequência, algum deles publica um tweet reformulando esse conceito para abordar uma discussão mais recente, enquanto outros impulsionam o post até viralizar.
Essa tese centralizadora é equivocada e só pode partir de quem acredita que o Bitcoin está, de fato, no centro do universo cripto.
Esse ponto de vista centrado no Bitcoin é tão ultrapassado quanto o modelo geocêntrico do sistema solar. Para não restar dúvidas: os demais planetas do nosso sistema solar definitivamente não giram em torno da Terra.

Considerando os princípios fundamentais, o Ethereum não possui nenhuma dependência técnica em relação ao Bitcoin. O protocolo Ethereum sequer reconhece o Bitcoin.
Se o Bitcoin deixasse de produzir blocos, absolutamente nada aconteceria no Ethereum.
Os US$ 165 bilhões em stablecoins, os US$ 65 bilhões em valor no DeFi, os US$ 55 milhões em queima anualizada de ETH e o ecossistema de startups, investidores e desenvolvedores que o Ethereum fomentou de forma única seguiriam normalmente no dia seguinte.
Exatamente como o Ethereum foi projetado para ser.

Na última semana, voltou à tona o debate sobre os riscos que a computação quântica representa para o Bitcoin. Scott Aaronson, referência mundial em computação quântica, escreveu em seu blog Shtetl-Optimized o seguinte:
Diante do atual ritmo acelerado de evolução do hardware, considero real a possibilidade de termos um computador quântico tolerante a falhas rodando o algoritmo de Shor antes da próxima eleição presidencial dos EUA.
Esse ponto é debatido no universo Bitcoin desde o começo — sempre se soube que as assinaturas ECDSA, utilizadas pela maioria das carteiras antigas de Bitcoin, não são seguras contra ataques quânticos, e que as chaves privadas de Bitcoin podem, eventualmente, ser comprometidas por um computador quântico, permitindo que um atacante sequestre os bitcoins.
No podcast mais recente, Nic inclusive atribui parte da desvalorização do Bitcoin ao fato de o mercado já precificar os riscos quânticos.
O mais importante aqui é entender que esse é um problema exclusivo do Bitcoin. O Ethereum já está protegido contra exatamente o tipo de ataque que hoje preocupa o Bitcoin.
A cultura do Ethereum sempre foi voltada para o futuro — talvez até em excesso, enquanto outros ecossistemas buscam atalhos para explorar fragilidades momentâneas do Ethereum. Não se trata deste caso.
No que diz respeito à ameaça quântica à segurança das blockchains, o Ethereum encarou o desafio de frente, ciente de que a computação quântica se tornaria uma realidade disseminada.
“Se o Bitcoin morrer, ninguém mais confiará em dinheiro digital”
Isso simplesmente não corresponde à realidade.
A morte do Bitcoin certamente geraria, de forma temporária, um vácuo de confiança, mas as necessidades e valores atendidos pelo Ethereum permaneceriam. Esse episódio provavelmente abriria espaço para o Ethereum demonstrar sua resiliência de longo prazo.
Espero que o Bitcoin supere a ameaça quântica, mas defendo também que a queda da principal moeda do universo cripto seria, provavelmente, extremamente vantajosa para a segunda maior moeda do setor.
O Bitcoin possui um enorme prêmio monetário, assim como o ETH. Sem o Bitcoin na equação, o ETH teria caminho livre e sem concorrência para se consolidar como o dinheiro nativo da internet. Sob a ótica de quem prioriza o valor do ETH diante das demais criptomoedas, o fim do Bitcoin por causa da computação quântica seria, provavelmente, o evento mais positivo possível.
O Ethereum continuaria produzindo blocos, movimentando trilhões de dólares em stablecoins, sustentando o ecossistema DeFi mais resiliente do mundo e queimando ETH como resultado.
Portanto, embora o Bitcoin enfrente uma “tarefa inimaginavelmente grande”, por se tratar da “maior mudança estrutural já feita no Bitcoin” (palavras de Nic Carter em seu podcast recente), o Ethereum já discute essas questões há uma década, com soluções prontas para implementar quando necessário.
Portanto, as limitações técnicas do Bitcoin não afetam meus investimentos.
Nota: Para se aprofundar no tema, confira Scott Aaronson com Justin Drake no podcast deste ano.





